Marcadores

quarta-feira, 14 de abril de 2021

O QUE É PRECISO?


Há um silêncio agonizante nos dias tristes que estamos vivendo. Uma solidão disfarçada de esperança, muito mais pela necessidade de tê-la do que por ela mesma existir. Talvez seja a dor compartilhada consigo, ou ainda, quem sabe, a simples constatação do quão distantes estamos de nos aliviarmos de tudo isso.
        Não é só a dor da distância, mas o lamento de só podermos fazer o mínimo ou quase nada. O desejo de não querer que assim seja torna o sentimento ainda mais pesado. Um distanciamento – isolamento não apenas de pessoas, mas, quiçá de nós mesmos? Por onde estamos se não aqui? Não poderia responder. Também estou no meio do turbilhão. Estou (sobre) vivendo em meio ao caos, assim como você e todos aqueles que ainda respiram.
        Ouvia hoje cedo uma canção que assim dizia: “Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria que se possa imaginar...”. Acalentou-me um pouco a angústia. Seria essa a solidão disfarçada de esperança? Ver o noticiário tornou-se penoso. O que se noticia reforça a descrença em dias melhores. Somos sugeridos a abrir os sentidos sempre para o pior dos cenários. O que nos resta então? Creio eu que sim, só nos resta a esperança. Não apenas no outro, mas essencialmente em nós mesmos.
Eu sei, os dias são tristes, mas é preciso ter fé. É necessário alimentar-se de esperança em meio a angústia e o sentimento de solidão. As tempestades são inevitáveis, contudo, saber sobreviver a elas é o que nos torna fortes. É preciso seguir – enfrentar o turbilhão – respirar em meio a tormenta. Acima de tudo, é necessário abrir todos os sentidos para a vida. E que a esperança e a fé nos faça então companhia.

Anderson Oliveira.

quarta-feira, 31 de março de 2021

RESTA.


Re (começo) visto que sim,
o poeta não é ponto (a) final.
Quem será – o que será de mim
quando enfim, nem o bem, nem o mal?
 
Re (ticências) é parte da vida,
é medida que sempre se espera.
Se por ela a vida for tingida,
qual será – o que não vai ser ela?
 
O artifício do mundo agora
é por hora o que foi revelado.
O pesar de outra vida, outrora,
e que agora ela está do outro lado.
 
Re (começo) penso que sim,
a poesia é a via que resta.
O poeta imagina outro fim –
outro sim, outra vida, outra festa.
 
Anderson Oliveira.